terça-feira, 6 de novembro de 2012

Minha primeira experiência com Ayahuasca


Não sei direito por onde começar, tudo ainda está bem confuso na minha cabeça, as ideias ainda não estão organizadas de uma forma cronológica, parece que tudo está acontecendo ainda, a experiência, o que eu vivi, não entendo ao certo o que foi a experiência, mas vamos lá!

Minha experiência com a bebida sagrada foi em um centro de umbandaime, que é a umbanda com o santo daime. O lugar das reuniões é uma casa, eu entrei em uma garagem fechada segui por um corredor meio apertado com muitas plantas e umas carrancas que são esculturas de demônios para espantar os espíritos de má índole. Segui por uma escada bem apertada e mal iluminada até o segundo andar da casa, onde tinha muitos santos em todo lado, uma rede pendurada com estrelas do mar, peixes e uma escultura da iemanjá, ao lado mais alguns altares de outros santos que eu não reconheci.

Fui o primeiro a chegar não tinha ninguém então eu ajudei a acender as velas para os santos com cores correspondentes, conforme fui terminando as pessoas foram chegando e sentando em umas cadeirascuja disposição era em um círculo e no meio um altar com várias velas e santos. Assim que sentei recebi umas 10 folhas impressas com letras de cansões, um dos organizadores me ofereceu um tipo de chocalho e perguntou se eu tocava, eu, solícito e um pouco nervoso não soube como recusar, detalhe: eu não toco nada, adoraria tocar mas tenho dificuldade. Nos levantamos e rezamos o pai nosso umas 3 ou 4 vezes. Em um canto da sala outro organizador pegou a garrafa de 2 litros com a ayahuasca, assim que ele abriu ela espumou como quando balançamos uma garrafa de refrigerante e o gás escapa, vazou bastante bebida, todas ajudamos a limpar e assim que o "gás" foi embora foi servida a primeira dose, todos tomamos e voltamos a nos sentar.

Cantamos durante umas 3 horas, o dia estava MUITO quente, o ambiente quase não tinha circulação de ar, as velas aqueciam ainda mais o lugar, o dia estava lindíssimo, céu azul poucas nuvens. Esse detalhe será importante mais para frente. Eu comecei a cantar junto com as pessoas quando me dei conta minha visão periférica estava se deformando, as letras formavam figuras, algumas pareciam um homem barbudo com cara de mal, eu fiquei me perguntando o porque esse esteriótipo de pessoas são ligadas a coisas ruins então a figura se transmutava entre olhos e figuras que me incomodavam, tentei abstrair e olhei a minha volta, a rede que era a simulação do mar balançava muito mas não tinha vento algum, percebi que a viagem estava começando, voltei a olhar para o papel e ele estava ficando gradativamente mais claro, como se uma luz acima de mim fosse aos poucos aumentando sua intensidade, achei estranho, olhei para cima e não existia luz alguma, o efeito foi passando gradativamente e voltei ao normal. Eu precisava de mais uma dose a garrafa tinha acabo.

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Percebi que existem alguns níveis de consciência, o primeiro é o da linguagem verbal, ou seja quando falamos. O segundo é nosso pensamento que organiza o que vamos falar, mas ele depende das referências que estão a nossa volta, por exemplo, se estou conversando com meu amigo dirigindo um carro, provavelmente vou falar algo referente a carros, trânsito, ruas, ou então sobre o destino que nos espera, sempre coisas ligadas ao que estamos fazendo, vamos fazer ou já fizemos, mas além desses níveis básicos, existem milhares de outros níveis que criam toda a realidade que nos permeia e de alguma forma com a ayahuasca conseguimos controlar esses diversos níveis de consciência e controlar a realidade que estamos, fazendo coisas aparentemente absurdas.

Minha percepção sobre isso foi um momento que eu estava tentando entender o que estava acontecendo no ritual eu comecei a me questionar o que eu estava fazendo naquele lugar, quando de repente  a mãe de santo se levantou, foi até um canto da sala e começou a conversar com algum "espírito", eu não via nada, mas ela estava virada para a parede como se tivesse alguém até que uma hora ela falou: "tem gente que não está acreditando no que está acontecendo, o que vamos fazer?" eu estranhei a frase e comecei a prestar bastante atenção nela, e logo em sequência ela disse "...em Ernesto". Por um momento eu fiquei meio em choque, Ernesto é o nome do meu vô, que foi para quem eu pedi proteção antes de ir para o culto, e que dentro de um nível de consciência eu queria lembrar dele, é como quando alguém tira as palavras da nossa boca.

Dentro do estado enteógeno aquilo foi o suficiente para eu perceber que eu estava controlando a realidade de uma forma muito sutil e meio sem controle, mas era eu controlando, ninguém sabia quem era o meu vô, e eu estava com ele em mente em algum nível de consciência, dai em diante essa percepção foi aumentando e mais cenas como essas foram ocorrendo.

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