segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Arte digital


Derradeira Condição                                          José de Almeida & Maria Flores

Em uma entrevista o artista e teórico Edmond Couchot, professor da Universidade Paris 8 e autor de "A Tecnologia na Arte: Da Fotografia à Realidade Virtual" (Editora da UFRGS, 2003).

Fala um pouco sobre os desafios da arte digital, suas relações com outras expressões artísticas e as interações cada vez mais presentes entre espectadores e obras de arte.

Irei separar alguns momentos mais relevantes para nossa pesquisa, se quiser ler a entrevista completa clique aqui.

"...é importante estabelecer a distinção entre simulacro e simulação. O simulacro visa enganar, fazer com que o falso passe por verdadeiro. A simulação, em seu princípio essencial, não busca nem o verdadeiro nem o falso: ela estabelece modelos que são capazes de reproduzir virtualmente o real e de dar conta de seu funcionamento, mas sem explicá-lo. A simulação simula, mas não explica. Embora o modelo digital da representação esteja cada vez mais onipresente, nós não vivemos mais na era dos simulacros, mas sim na era da simulação. A simulação põe fim ao simulacro.
Por outro lado, isso não nos impede de fazer novos questionamentos, pois, no caso do simulacro, sabíamos que era possível tomar o falso por verdadeiro, o que nos permitia encontrar este último. Já a simulação, que não se pretende nem verdadeira nem falsa, deixa-nos num estado de incerteza desconcertante."


"Cibercultura - Ao representar uma realidade fragmentada ao extremo, o artista contemporâneo corre um risco maior de alienação ou separação do real?


Edmond Couchot - O perigo para o "artista digital", assim como para o artista que trabalha com técnicas tradicionais, não é separar-se do real; o perigo é não estabelecer vínculos entre seu imaginário e a realidade - seja ela a realidade "real" ou a realidade simulada. O perigo, então, está em substituir o real ou sua simulação pelo imaginário.


CC - Como ficam, na arte tecnológica, as interações entre arte, ciência e técnica?


EC - Essas interações são extremamente fortes, visto que todos os modelos de simulação utilizados pelas tecnologias digitais provêm da ciência (informática, matemática, física, ciências cognitivas, biociências etc.). Antes da era digital, a arte sempre se inspirou na ciência, que exercia sobre ela uma influência metafórica. Com o digital, a ciência passou a penetrar diretamente no âmago da arte por meio de técnicas de simulação. A relação deixa de ser metafórica e se torna operacional. Por essa razão, os artistas que não quiserem se transformar em marionetes da técnica terão de se esforçar para questionar sobre suas novas ferramentas."


"CC - O senhor poderia ressaltar linhas de pesquisa, artistas ou trabalhos que tendem a constituir o futuro da arte tecnológica?


EC - Com base nas minhas observações, constato que a arte digital está abrindo um caminho bastante promissor em direção a várias formas de arte - teatro, dança, circo, ópera. Trata-se de uma área em que a presença enigmática dos corpos devolve à interatividade toda sua riqueza e sua potência. O corpo humano, suas emoções e sua inteligência constituem o novo terreno de exploração da arte digital de amanhã."

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